Minha amada Senhora

Já me antecipo pedindo desculpas pela pieguice. Mas todos sabem que aquele que ama, vez ou outra, acaba sendo piegas.
É que não posso deixar -  nesta ocasião - de falar da minha paixão por uma adorável velhinha que está aniversariando neste mês de janeiro. Essa senhora que, apesar da idade avançada, consegue todos os dias se reinventar; ser nova, moderna, mas lutando constantemente para não perder sua história e tradição.
Uma anciã que a todo o momento recebe todos que a procuram com o maior carinho e digo todos, mesmo, todas as raças, crenças, culturas e gostos. Sempre há espaço para mais um!
Senhora multifacetada, consegue abrigar em si várias formas e estilos de vida: é rica, é da periferia, da favela, das casas e arranha-céus; dos viadutos e avenidas, dos parques, lagos e rios (que chora por sua poluição). É do Brás e é da Oscar Freire; é do traje social e de gala e é do estilo alternativo, do short e camiseta. Transita, muda e renova a cada segundo. É mesmo difícil acompanhar o seu ritmo... pressa extrema em não parar, nunca, e de ser quem é: gigante.
O que me deixa chateada e, muitas vezes indignada, é o imenso descaso e desrespeito com que essa querida idosa é tratada, justo por aqueles que foram confiados para cuidar dela, deixando-a largada, suja, molhada (alagada, diria) e muitas vezes completamente abandonada.
Como posso deixar de expressar o que sinto por essa senhora que está completando 458 anos? Eu poderia aqui dizer coisas óbvias como: São Paulo é a cidade mais populosa do Brasil, do continente e do hemisfério sul, é a sexta maior cidade do planeta, está entre os 10 destinos turísticos mais visitados do Brasil, é importante no cenário econômico do país e influente no cenário mundial; é o município que possui o 10º maior PIB do mundo etc.etc. etc.... Mas isso tudo traduz apenas uma das várias faces da cidade.
O que quero falar é do que poucos param para ver, para sentir, para entender: o pulsar de uma metrópole que é tão múltipla e democrática que nos fornece as quatro estações num mesmo dia! Um lugar onde você consegue ver lado a lado carros de luxo e carroças puxadas por cavalos. Aqui, há uma infinidade de shoppings centers convivendo com os tradicionais mascates e caminhões vendendo produtos de limpeza ou pamonhas e curau. Pássaros fazendo seus ninhos no alto dos edifícios.
Fico admirada quando ouço alguém dizer que São Paulo é cruel, impessoal, estressante. Ser apressado se faz necessário pelo tamanho da metrópole: se você não “correr” como consegue percorrer todo o trajeto para chegar, por exemplo, da Penha até a região da Berrini? São mais de 30 km de carro; de condução, bem mais de 1 hora entre transportes...
Quanto à impessoalidade ou crueldade, não é o que vejo quando o “estressado” paulistano pára no final do dia com seus amigos (igualmente estressados?), puxa uma cadeira da mesa de um boteco, ocupando as calçadas com risos, cervas e descontração. Ou em alguns bairros que ainda conservam a tradição de seus moradores colocarem as cadeiras nas portas de casa para uma boa conversa de fim de tarde. Há ainda os bons papos e amizades iniciados em algumas das várias filas as quais todo paulistano e/ou morador da cidade é submetido: a da compra de passes para o transporte, a de bancos, as dos pontos de ônibus, de cinemas e tantas outras. O que dizer então dos churrascos de final de semana, as baladas para todos os gostos, a cena cultural efervescente?!. Aqui, temos hora para trabalhar, sim, mas temos tempo - graças a Deus - para se divertir.
E o que não falta é diversão: do carnaval à opera; do museu, ao domingo no parque; dos shows de Rock, Rap e MPB às peças teatrais; Um vasto cardápio com a gastronomia do país, do mundo inteiro.
SP é assim: tudo ao mesmo tempo e agora. Negócios e empreendimentos surgindo a todo segundo. A casa que estava na esquina ontem, pode não existir mais hoje. Novas tribos e ondas surgem num piscar de olhos. Pessoas chegando com as bagagens cheias de esperanças e gente partindo para outras viagens.
Amar essa cidade é amar o movimento constante. Seus defeitos, a maior parte deles, cabe a cada um de nós corrigir. Afinal, quem faz a cidade senão as pessoas que nela habitam?


Foto: Vale do Anhangabaú - Cecília Dale


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