Ecos lógicos
Tentei não me incomodar com tantas contradições, mas foi
impossível. Mais forte do que a minha vontade de me alienar (?) é,
sem dúvida, a minha vontade de questionar.
Como pode um país sediar um evento para discutir o futuro
“sustentável” do planeta, se não consegue sequer olhar para o
próprio umbigo e cuidar do seu quintal?
É difícil ficar indiferente quando todos os noticiários
(impressos, online, TV...) repercutiam a tão falada Rio + 20.
Acho vergonhoso nosso Brasil querer falar de ecologia; Ops, desculpem
a minha falha! Não se diz mais ecologia, agora se usa o termo
sustentabilidade. Como se a mudança de palavras fizesse a alteração
mais importante: a mentalidade de quem decide se preserva, ou não,
os recursos naturais. Enfim, retomando, acho (no mínimo) curioso o
Brasil posar de líder, de sede do evento e de país que tem e
prática ações sustentáveis. Afinal, para usar uma expressão bem
popular adaptada ao assunto, o buraco na camada de ozônio é bem
mais em cima.
Vejamos alguns exemplos da boa conduta ambiental brasileira (digna de
ser copiada e alardeada mundo afora): a histórica seca do nordeste
que este ano já prejudica vários municípios, devasta plantações,
mata os animais e leva pessoas a viver em condições sub-humanas.
Veja que não se fala absolutamente nada a respeito de uma solução
para esse problema secular. Países como os Estados Unidos, Barém e
Arábia conseguem levar água ao deserto; mas o Brasil, não, prefere
ser um modelo do atraso e do descaso.
Outra situação, o excesso de automóveis nas grandes cidades, o
governo reduz impostos para que as pessoas se endividem comprando
seus carros. Em contrapartida, os transportes públicos são
precários, caros, e às vezes, humilhantes para aqueles que dependem
diariamente de uma condução. Investimentos nessa área
(principalmente os transportes sobre trilhos) são insípidos. Assim,
se produz trânsito e poluição de sobra; já estão pensando até
em exportar!
Já em alguns lugares do norte e do nordeste do país, o principal
meio de transporte passou a ser as motocicletas – criando um novo
problema – o abandono dos jumentinhos. Esses antigos companheiros
de tempos são largados em estradas e nos municípios, como o lixo
que a população insiste em jogar por aí.
Temos ainda outro problema gigantesco, literalmente, a verticalização
desenfreada das cidades. Sem qualquer critério, erguem-se torres e
mais torres deixando de lado preocupações básicas de urbanismo e
zoneamento. Locais onde havia três ou quatro casas – com, no
máximo, 9 ou 12 carros – situadas em pequenas ruas nas quais
circulavam um trânsito local, passam a abrigar (na melhor das
hipóteses) três torres, com uma média de vinte e cinco andares
cada e quatro apartamentos por andar. Fazendo um cálculo básico,
que cada apartamento tenha dois automóveis, trocamos os nove ou
doze, por aproximadamente 500 a 600 carros. Sem contar que nestas
três ou quatro residências, extrapolando, morassem no total vinte
pessoas, com as torres podemos multiplicar para uma média de 900 a
1.000 pessoas e com isso toda a multiplicação de uso da rede de
água, esgoto e eletricidade; levando os bairros a uma aglutinação
populacional absurda, com excesso de carros, poluição do ar e
sonora e aumento das redes de abastecimento.
Esse assunto é extenso, há os que usam o discurso da
sustentabilidade da boca pra fora, na prática, a coisa é bem outra;
empresas fazendo propaganda, passando imagem de “ambientalmente
responsável”: balela! Temos o desmatamento, as queimadas e recente
aprovação de um código florestal pra lá de duvidoso... Mas só
para complementar, vou citar outro exemplo problemático: o consumo
desenfreado. Vivemos, atualmente, ondas contínuas de estímulos ao
consumo e, consumir gera muuuuito lixo; lixo eletrônico, orgânico,
plásticos, panos e uma infinidade de materiais. Todos os produtos
têm validade curta, a obsolescência programada. Computadores não
funcionam bem mais do que três anos; celulares já são como a moda,
toda estação tem novas coleções e tendências. E brasileiro que
se presa é modista, gosta de novidade, quer possuir para se sentir
parte de um mundo moderno, evoluído. Ao mesmo tempo em que joga
sujeira no chão, sacos de lixo e pets boiando nos mares e rios;
bitucas de cigarro por todos os cantos; sofás e televisores
convivendo com postes e muros nas ruas.
Carcaça de monitor de computador em calçada, São Paulo |
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