Incondicional



Não importa a hora, chova ou faça sol, a qualquer movimento ou o som da minha voz é o suficiente para fazer com que ela pare tudo o que está fazendo e venha ao meu encontro. É assim desde sempre, desde quando veio morar conosco há quase nove anos.

Esperta e carinhosa sabe surpreender quando quer. Pode se jogar aos meus pés, pular, ou enfiar o focinho na grade da porta e me olhar com olhinhos meigos, as patas dianteiras segurando a grade e o corpo dando um balancinho, como se estivesse dançando twist.

Falo de Penélope, amiga de todas as horas. Em todos os momentos disposta a um carinho, a uma brincadeira e até a uma verdadeira farra!

Inquieta – essa senhora que em julho completará onze anos – não pára. Adora atravessar da garagem para o quintal dos fundos, dando uns pit stops no escritório, para quebrar a monotonia do trabalho, pedir um afago, brincar e ficar pra lá e pra cá. Quando vê que estou ocupada e não lhe dou muita atenção, dá um toque com o focinho na minha perna ou na minha mão e fica me olhando fixamente, como se me dissesse: “Oi, eu estou aqui. Vamos brincar? Eu quero sua atenção!”

Fico comovida com sua alegria e a festa que faz sempre que nos vê, como se fossem os nossos primeiros encontros, e que nunca se acabam... Penélope parece ter uma gratidão eterna por termos a escolhido, dado a ela um lar, nosso amor e atenção.

Sabemos que vagou em busca de abrigo, comida, sofreu maus tratos, apanhou... Foi resgatada por mãos boas e caridosas e adotada por nós. Do período em que esteve nas ruas, restou a epilepsia como seqüela. Hoje, completamente sob controle e, felizmente, sem as assustadoras convulsões, Penélope vive como se nunca tivesse passado por qualquer tipo de sofrimento.




Ela não é como aqueles cachorrinhos bem comportados, do tipo chaveirinho ou bicho de pelúcia, aqueles que ficam quietinhos onde você os coloca, embaixo do braço ou num cestinho. Penélope é hiperativa, serelepe, não se aquieta. Claro que dá os seus cochilos, estica suas patas no muro, toma sol, mas só o tempo suficiente para recarregar suas baterias e começar a algazarra. É incansável e gulosa; deixe o saco de ração aberto perto dela e irá devorá-lo, petiscando os grãos como se fosse seu aperitivo. Adora banana e é minha sócia quando se trata de batatas tipo chips e pipoca; maçã também está entre os seus lambiscos favoritos.

Queridinha por alguns vizinhos e por pacientes de um consultório próximo, ela sabe se fazer notar quando quer sua atenção e seus carinhos: fica se esfregando no portão, dando rosnadinhas e latidinhos até conseguir o que deseja; aí se desmancha toda, ficando de barriga para cima e abanando o rabo.

Eu poderia contar páginas e mais páginas suas aprontações e façanhas e ainda seria pouco para descrever o imenso carinho que tenho por esse animalzinho que preenche as nossas vidas e que faz toda a diferença no nosso dia-a-dia.

Não a humanizamos, não tratamos Penélope como uma pessoa, apesar de todo o amor que sentimos por ela, nós a tratamos como um querido bichinho de estimação, pois o seu grande mérito é ser uma cachorra. Afinal, esse amor e amizade incondicionais, essa disposição para um carinho a qualquer hora – esteja eu de bom o mau humor, alegre ou triste, de TPM... não importa – só um cachorrinho seria capaz de tamanha fidelidade e companheirismo. Quando, que nos dias de hoje, um amigo humano seria capaz de tanto companheirismo, amor e disposição para estar ao meu lado a qualquer momento? Francamente, humanizá-la, para quê?!








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