Muito mais que pior



Quando eu era pequena e falava "mais ruim", ou, "mais pior" imediatamente me corrigiam dizendo que não se aplicava mais a essas palavras (veja regra), talvez porque quando criança as coisas no Brasil não pudessem mesmo ser piores: estávamos em uma ditadura, o mundo dividido entre comunistas e capitalistas; bem e mal; certo e errado; "mocinhos e vilões". Sabia-se, claramente, - de acordo com o lado em que se estava - quem era o inimigo.

Atualmente, nesses anos 10, do século 21, posso dizer que, apesar das regras da nossa amada língua (que eu respeito muito), o mais do mais ruim existe, sim!

Vivemos em uma época de total cinismo e falta de comprometimento. Seu inimigo pode ser aquele político que você acreditou em suas propostas e deu seu voto a ele e quando chegou ao poder traiu a todos para defender seus próprios interesses – e de seus parceiros – roubando, aumentando o salário dele e os impostos seus, legislando em causa própria, enganando e pedindo novamente o seu voto...

Aquele (ou aquilo) que parece bom aos olhos de todos, ao sabor das conveniências torna-se, de repente, o grande mal do mundo. Veja, por exemplo, a questão do deficit habitacional: falta moradia para as pessoas, sejam elas de baixa renda, ou não. À medida que esse discurso ganha proporção, prédios e mais prédios são erguidos, com seus apartamentos cada vez menores, preços tão altos e prestações tão numerosas quanto as torres que não param de se multiplicar, sem respeitar o espaço do terreno, se o bairro, comércio ou trânsito local comportam tantas pessoas e seus automóveis. Há, ainda, as invasões de terrenos próximos aos mananciais, ou encostas e morros. Pessoas na sua ânsia (e ignorância) de ter um teto para morar servem de massa de manobra para ditos líderes de movimento “profissionais”, cujas intenções passam bem longe de resolver as questões de moradias populares. No final das contas, as pessoas, em sua maioria, continuam sem conseguir realizar o "sonho da casa própria", o meio ambiente está sendo devastado numa velocidade espantosa para poucos lucrarem muito com isso.

Temos as corporações com seus discursos sobre as futuras gerações, um mundo lindo e meio ambiente preservado, com pessoas mais felizes... e suas atitudes com funcionários e consumidores mostram exatamente o oposto: descaso, maus tratos, interesse no lucro pelo lucro.

As amizades e os relacionamentos podem se dissolver por divergências políticas postadas em redes sociais, ou por questões materiais, transitórias, superficiais.

A quantidade imensa de informação se tornou a munição da ignorância. Há (e cada vez mais) um exército de imbecis vomitando opiniões prontas, discursos feitos, acreditando que estão exercendo sua liberdade de expressão... Liberdade?! Expressão? De quem?! Os “inteligentinhos” de plantão, espertos que só (!), não percebem que são porta-vozes teleguiados. Sua sapiência não consegue alcançar que seus “protestos e discursos originais” estão a serviço de interesses específicos, trocas de poder, dança das cadeiras, golpes, manter o status quo, alimentar o sistema. Falta a esses doutos formadores de opinião compreenderem que nos dias atuais nada é simples, todas as questões e situações têm vários lados e não apenas dois, como antigamente; nada é preto no branco; esquerda ou direita; bons e maus; certos ou errados; burgueses e proletários... Há hoje uma pluralidade como nunca se viu; uma complexidade, um caleidoscópio de situações e condições dos quais precisamos ver com atenção analisar os fatos, pesar, saber quem está dizendo o quê e porquê e, o quê ou quem – de fato – está por trás daquele que está dizendo. Sim, porque há camadas; como eu disse, nada é tão simples. Então, como ter opiniões (travestidas de análises e reflexões) que são da profundidade de um pires?

Meu Deus, é muita miopia! Fruto de um sistema educacional rasteiro, quase inexistente, que só apresenta números, sejam estatísticas para dizer que “tudo vai bem” (?) ou para encher os bolsos de acionistas e donos de instituições particulares que formam a cada semestre um batalhão de analfabetos com diploma.

Pois é... posso me atrever a dizer que hoje no nosso querido país a situação é muito mais pior.

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