Não atire a primeira pedra!



Sabe aquela história da pedra que, quando jogada no lago, suas ondas vão se propagando e propagando? Pois então, o mesmo acontece com a gentileza ou com a agressividade. Quando iniciado o processo – e toca alguém – tal processo tende a reverberar e reverberar e reverberar. Vivi algo do tipo recentemente. Ao encarar uma fila enorme no metrô para carregar o bilhete, vejo que próximo ao guichê, sentados no chão, estão dois meninos: um de 7 ou 8 anos de idade; e outro com aproximadamente 10, tinha umas mechinhas louras (caseiras) no topinho da cabeça; essas modinhas de jogador de futebol ou pagodeiro. Vendo aqueles dois, uma única indagação me ocorreu: o porquê da mãe deixar as crianças sentadas naquele chão sujo...

Mas para meu espanto, a mãe não estava na fila; ela não estava ali! Só me dei conta do fato, à medida que me aproximei dos moleques e vi que pediam, a cada pessoa que chegava ao guichê, para lhes dar uma moeda.

Tal fato me fez perguntar que tipo de pais (pais?!) abandonam seus filhos nessa condição? Com que direito roubam suas infâncias?

As crianças estavam limpas e com as roupas em boas condições; sabe-se, então, que não moram nas ruas. Estão em idade escolar, logo sua mãe pode requerer todas as bolsas e auxílios de que o governo dispõe. Ora, e ainda assim submete aqueles garotos à mendicância!

Não pude não me revoltar. Desde cedo dois meninos aprendendo que o sustento se ganha da comiseração alheia, do que os outros dão e não do vem do próprio trabalho. Trabalho... Só acordei do meu devaneio social quando a funcionária enjaulada me responde com bastante aspereza: "já ouvi!". Irritada por eu repetir o valor que eu queria abastecer o meu cartão.

Pronto. O efeito pedra no lago havia começado. Respondi um "ta" bem aborrecido para moça, catando o meu troco e o bilhete com mal humor.

Subindo as escadas rolantes em direção à plataforma, ainda com raiva da situação dos moleques e da grosseria da bilheteira, me recordei da pedra no lago. Respirei fundo, meditei a respeito e cheguei a uma conclusão: as crianças mendigando desconhecem desde cedo o valor do seu sustento e, por sua vez, a funcionária do guichê (grossa) desvaloriza o seu trabalho. O que eu posso fazer diante disso tudo?!...

A mim só me cabe não jogar mais pedras no lago.




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