Alegrias Artificiais




Postou mais umas fotos em sua página; era a felicidade em pessoa! Estava no seu oitavo bloco e prometia sair em outros mais até a terça-feira...
Para quem não a conhece pessoalmente, ou não a vê há algum tempo, juraria que não lhe falta
agitação alegria e disposição para brincar o Carnaval.
Aliás, quem vê sua rede social, acredita que é uma das pessoas mais de bem com a vida e animada, com uma agenda lotada de eventos super mega legais.
Mas além da sua linha do tempo, por trás de suas postagens, está a sua verdadeira essência: decepção amorosa, graças a um relacionamento terminado pouco antes do Carnaval (no qual adorava, mas não era adorada), uma carência desmedida por atenção, admiração e carinho e uma profunda e triste solidão...
Eu conheço essa pessoa de perto e bem sei que sua rede social é a antítese da sua vida.
Esse exemplo, infelizmente, não é exceção. Cada vez mais e mais indivíduos usam as redes sociais como um simulacro de uma vida emocionante, bem sucedida e feliz, enquanto sua vida real vai pouco a pouco se esvaziando, ou caminhando na direção oposta à de suas postagens.
Temos uma avalanche de alegrias artificiais. Fotos posadas, nas quais mortais comuns sentem-se tal qual a celebridades do momento, fazendo caras e bocas, perfis e olhares fatais. Pouca espontaneidade e momentos felizes de fato, para expor aquilo que precisa ser curtido e comentado artificialmente para alimentar mais superficialides, retroalimentando um ciclo de sentimentos e situações banais sem fim.
Há também aqueles que buscam o seu momento CVV. Ao contrário dos "estou bem sempre, olha só! ", esses resolvem jogar na rede todos os seus problemas, desabafando suas angústias para quem estiver disponível para ler suas tristes postagens,
desabafos ou  fotos e vídeos. 
É uma outra forma de chamar a atenção, mas pelo oposto, mostrando para todos aqueles que se dizem ótimos: "Olhem para mim! Você mostra sua vida magnífica e eu aqui na merda, na solidão, na falta de perspectiva, no abandono"... Essa modalidade também imita algumas celebridades que expõe suas dores para que o público saiba de suas mazelas e que famosos são gente como a gente e sofrem como todos.
Ambos os casos (sou feliz e ótimo sempre, ou sou o pobre coitado que ninguém liga) são assustadores, um prato cheio para estudos psicológicos... Ah, se Freud fosse vivo!
Há também aqueles que pertencem à categoria das indiretas, lavando a roupa suja via rede social com sabe Deus quem, postando memes, frases de efeito, personagens e outros recursos disponíveis para quem tem interesse em alfinetar seus desafetos pela web... Só me pergunto se a pessoa a qual se refere as indiretas sabe que é para ela, num universo onde quem mandou tal indireta tem uma média de 2700 amigos!...
Enfim, eu minhas rabugices! Vai ver rede social é para isso: estar com todos e com ninguém; parecer tão próximo, sem ter a menor intimidade; se distanciar de quem se encontrava pessoalmente, para interagir por meio de uma tela e um teclado... Postar falsas alegrias para não se confrontar com a dor. Encorporar um avatar, para não encarar o seu verdadeiro eu.
Oh, admirável mundo novo!

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