Brilhe!



Dia desses, vendo a foto antiga de um conhecido e, depois comparando com uma atual, me deparei com algo que não havia me dado conta: nossa luz interior. Sim, aquele brilho que temos que vem de dentro para fora e que nos ilumina, como também tudo e todos ao nosso redor. Claro que alguém pode me dizer que entre uma foto e outra havia se passado quase vinte anos... Verdade, mas não me refiro às mudanças físicas que o tempo impõe a todos, a uns mais, a outros menos. Alguns perdem cabelos e ganham quilos; outros, começam a ter no rosto as marcas dos anos; os cabelos branqueando, as mulheres recorrendo com mais constância às tintas; o cansaço se torna mais frequente... Enfim, não se trata da passagem do tempo (que para alguns têm sido, muito, muito generoso!), tem a ver com o que cada um guarda em sua alma, no seu íntimo. 
Aonde foi parar aquele brilho? Em que momento da vida de alguns de nós essa luz se perdeu? O que aconteceu para que ela se ofuscasse, ou pior, será que se apagou de vez?!
Voltei no tempo e me recordei de amigos, alguns que já não vejo mais; outros, em contato somente no virtual e os que vejo de tempos em tempos. E nessas recordações, com saudade e alegria, tudo se iluminou. A juventude é luminosa! E percebi que algumas pessoas carregam esse brilho como no passado, já outras… 
Corri com os olhos da memória a menina, a jovem que fui, na tentativa de ver se essa luz, esse brilho ainda mora em mim. Toda essa reflexão me fez ver que quando nos permitimos nos voltar a nós mesmos, temos a oportunidade de nos conhecermos melhor e de podermos rever nossa trajetória, mudar o que precisa, começar do zero (quando necessário), ou aprimorar ainda mais o que está bom.
E o leitor pode me indagar se os sofrimentos que passamos não seriam os responsáveis por essa falta de brilho, pelo apagar da nossa luz... Penso que, em certa medida, os momentos de dor podem - quando muito intensos - ocultar o nosso brilho, diminuir a energia da nossa luz, mas ela continua ali, junto de nós, sem se apagar. Pois o padecer faz parte da vida, é aprendizado e cada um tem o seu, no tempo, tamanho e frequência que lhe cabe. E para aqueles que compreendem que podem crescer depois da tormenta, sua luz ficará ainda mais forte e constante. Por isso, creio de verdade que a ausência de brilho não está ligada ao sofrer, mas sim como cada ser lida com sua existência como um todo. Quantas pessoas passam por situações extremas com uma serenidade e resignação admiráveis e vemos nelas uma paz interior inabalável; elas são iluminadas! Assim como também vemos outras que teriam tudo para irradiar um quarteirão e não nos passam nada, são foscas, apagadas... 
O que não podemos permitir é nos afogar no cotidiano esmagador, nas imposições sociais, na obrigatoriedade ridícula de padrões preestabelecidos e responsabilidades infinitas, reunidos no "pacote/combo max do Ter": ter que ser um profissional bem-sucedido (nos moldes vigentes), ter que consumir produtos, marcas e lugares da moda, ter o estilo de vida do momento, estar sempre feliz nas redes sociais, ter um super carro, ter o celular de última geração, ter o corpo perfeito, ter dinheiro... Ter e ter e ter e ter... E onde fica o SER?! Fica aprisionado, sufocado e amordaçado para que dê lugar ao ser social imposto pelo "mundo-matrix" em que vivemos. Enquanto as almas morrem um pouco a cada dia, apagando lentamente aquele brilho que na juventude era intenso, porque nessa fase tudo se pode, as pessoas querem ser e se movem nesse sentido. 
À medida que os anos passam, vão deixando de ouvir a alma e cedendo ao barulho do mundo, se perdendo mais e mais da sua essência e abandonando todo o seu brilho, até que se esqueçam completamente do que eram e dos sonhos que alimentavam. 
Devo confessar que foi providencial ver as imagens desse conhecido e lembrar-me dele luminoso como na foto de anos atrás e o meu espanto de vê-lo tão apagado... Fez com que eu trilhasse essa viagem interior para reconhecer que é preciso muita força para mantermos nossas almas pulsantes, ouvirmos sempre o que ela tem a nos dizer, porque é sabia, conhece o que nos preenche e o que realmente nos dá felicidade. 
Compete a cada um de nós a escolha de sermos do formato da sociedade ou do tamanho da nossa alma: brilhar ou não brilhar?! Eis a questão.

Comentários

  1. Rosanea Franco da Rocha28 maio, 2016 00:09

    Muito boa a reflexão.Adorei! Parabéns!

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