Amigos: na alegria e na tristeza...



Para Edú Dias (in memoriam)



Quando tive a ideia de escrever sobre essa crônica não havia me dado conta de que esse mês se comemora o Dia do amigo, 20 de julho. Na verdade, uma amiga mais que querida (presente em minha vida, apesar de um oceano de distância) havia me soprado o tema há algum tempo, mas só agora me veio o que dizer.

Poderia tecer frases meigas e dóceis, falar só de coisas maravilhosas, saltear de corações e unicórnios esse texto sobre algo que considero lindo e raro: a amizade verdadeira. Contudo, para quem já está nos "enta", viu bastante coisa e passou por alguns bocados, prefiro expor a minha real percepção e experiência do que já vi e vivi.

Costuma-se dizer que o verdadeiro amigo é aquele que está ao seu lado nos momentos de sucesso, pois consegue te ver bem e ficar feliz por suas conquistas. Em parte, concordo com essa afirmação, porém, – na minha modesta opinião – essa crença pode ser enganosa. Vajamos...

É muito fácil e cômodo estar ao lado de quem está bem, feliz e realizado, ainda que seja para ficar torcendo para que tudo mude e dê errado. É o caso dos invejosos de plantão, que orbitam em torno das conquistas alheias, se fingindo de amigos, aparentando um falso contentamento pelo sucesso do outro, mas está ali gorando, soltando em silêncio o seu grito pela queda, para que nesse momento assista de camarote a derrota do amigo-irmão e comemore sua vitória sobre a desgraça alheia.

Existem também aqueles devotados amigos que estão ao seu lado nos bons momentos (apoiando o seu sucesso?!), porque de fato é muito conveniente desfrutar das benesses de uma amizade que pode, de alguma forma, tirar proveito, seja material, seja contatos profissionais, ou por belos churrascos e festas aos finais de semana e feriados, casa na praia ou no campo, entre outras formas de compartilhar as grandes alegrias de uma amizade, forte e duradoura. Ou ainda ficar como um vampiro, sugando de canudinho a boa energia emanada pelo amigo bem-sucedido e feliz.

Há os que acreditam que problema é contagioso; então, só devem ficar ao lado de quem está numa boa... Outros ficam pela estrada, partem sem dizer adeus ou o porquê de seu abandono. Amigo é afinidade, é ter coisas em comum para dividir, trocar e, se por alguma razão essa afinidade esmaece, o companheirismo tende a findar.

Eu poderia elencar aqui uma série de exemplos de amigos maravilhosos que ficam próximos de quem está em uma condição privilegiada por uma amizade sincera e desinteressada. Acredito que já consegui expor o meu ponto de vista para o leitor que, tenho certeza, deve ter se identificado com alguma dessas situações (por ter vivido ou assistido de perto).

Acredito que o amigo pra valer é para todas as horas e principalmente nas dificuldades. É aquela pessoa que só pelo fato de estar ao seu lado já faz um bem enorme. Muitas vezes sua presença (que pode não ser física), seu carinho e preocupação sincera, são combustíveis que impulsionam nossa jornada em momentos de dificuldades. Dependendo da situação, tudo que esse amigo pode fazer é vibrar pela sua melhora e o fato de ele fazer isso de coração é uma ajuda imensa!

Assisti a uma palestra (linda!) há poucos dias que falava sobre o amor e, dentro de um tema tão vasto, o palestrante pinçou uma parte muito interessante e que eu não havia parado para pensar, mas que faz todo sentido! Só pode dar amor aquele que tem amor-próprio. Não se pode amar o outro sem amar a si mesmo. Meditei a respeito e achei essa afirmação de uma verdade tão pura. Como alguém vai saber amar a uma pessoa se não consegue gostar de si mesma, se tratar com respeito, ter carinho por si, ser verdadeiro – antes de mais nada consigo próprio –, espontâneo, estar feliz por ser quem é? Não há como doar ao outro o que não sabemos doar a nós mesmos; tão pouco esperar dos outros aquilo que não damos a nós. Sendo assim, o amigo puro, verdadeiro é aquele que se ama e tem a capacidade de amar o seu amigo como a ele mesmo; deseja a esse amigo o que deseja para si: uma vida próspera, cheia de felicidade. E quando vem os momentos de tormenta, fica ao seu lado, porque sabe o que é dificuldade e que seu apoio significa muito.

O amigo leal é aquele que ri e chora junto; comemora e se preocupa; desfruta e economiza; apoia e dá bronca quando precisa; é forte e é suave; é sério e é palhaço; é colo e é força; é abraço e pega no pé. Mas acima de tudo é presença constante, ainda que não possa estar fisicamente junto.

Um grande amigo  – que, infelizmente, já nos deixou – não ficava uma semana sem me ligar e dizia: “é preciso fazer a manutenção da amizade!” e ele estava certo. Cinco anos e meio após sua partida, sua pessoa, amizade e momentos que vivemos permanecem em minha memória e meu coração e ele deve saber disso de onde estiver, pois meus pensamentos e preces continuam fazendo a manutenção da nossa amizade.






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