A impermanência das coisas



O que me assusta na passagem do tempo, não é o fato de ficar mais velha. Afinal, isso é algo sobre o qual não temos controle; além disso, acredito que só envelhecemos quando permitimos, digo no sentido de nos tornarmos ultrapassados para nós mesmos, de sermos incapazes de querer e fazer algo novo, de nos reiventarmos. E não de intervenções cirúrgicas, roupas, cabelos e atitudes que não tem a ver com a idade de cada um.
Mas o que me aflige no correr do tempo é a sua velocidade (cada vez maior), inversamente proporcional à minha capacidade de realizar e fazer tudo o que planejo, quero é necessito.
Além de ver que dia-a-dia, o cotidiano pode se perder, como se não tivesse existido.
Dia desses, passei em frente à farmácia próxima à minha casa - que já estava fechada há alguns meses, devido à crise, algumas lojas da rede foram desativadas, - e vi que tudo o que restou da edificação foram escombros... Fiquei chateada, pois era um estabelecimento onde os funcionários te conheciam, perguntavam de você, como antigamente! E, da noite para o dia, essas pessoas perderam seus empregos e depois nem sequer o prédio ficou em pé: fim...
Esse estado constante de impermanência, de tudo ser descartável e passageiro é para mim algo tenebroso; Não há o ontem e não haverá o amanhã, apenas um eterno presente que se realimenta todos os dias na falsa aparência da renovação, da modernidade e da tecnologia. Balela!! A impermanência das coisas nos deixa num estado em suspenso, no qual as certezas são relativas, as tradições desprezadas e tudo o que é passageiro permeia nossas vidas, dando a sensação de que nada é certo. Ansiedade e angústia vão dominando, silenciosamente, as vidas sem que as pessoas se dêem conta disso.
Passam seus dias tentando preencher um imenso buraco, que não tem fim, refugiam-se no hedonismo, na comida, bebendo demais, expondo suas vísceras nas redes, buscando a aparência "perfeita", atrás da felicidade no que está fora... Como? Se o exterior é efêmero, é impermanente?!!
Estamos chegando ao final de mais um ano, o término de um ciclo. O tempo voando implacavelmente...
2016 não foi fácil, para uns mais desafiador do que para outros, mas, em certa medida, difícil para todos, para o Brasil (especialmente) e para o mundo.
Particularmente, foi um ano como não me lembro de ter tido outro igual e espero não ter! Mas não posso ser injusta, pois a superação veio, está em processo é o que mais importa agora.
Dizem que, astrologicamente, é o fim de uma era, regida pelo Sol, na qual a vaidade, o prazer imediato e o sucesso sem mérito, foram algumas das suas características e  que iniciará a fase de Saturno, na qual a austeridade, o esforço e a seriedade entrarão em vigor. Que essa nova época possa privilegiar o mérito pelo trabalho, pelo talento; que sejam realizados e constituídos relações e atos duradouros e verdadeiros, que transcendam o tempo e as aparências.
Que 2017 possa trazer novas possibilidades, mas que o novo seja capaz de coexistir com o que já foi construído e que tradição e memória sejam o caminho natural para o futuro, pois não há hoje (muito menos para onde ir), ou um amanhã real, sem sabermos o que foi o ontem.

Comentários

  1. Muito boa reflexão!

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  2. Amei o texto flor. Parabéns!! Lembrou -me Eliane Brum agora... Parece um esforço continuo este que fazemos. Cansativo demais. Vivemos para o futuro mesmo sabendo que não suportamos tal velocidade... As vezes penso que seria mais fácil não sentir, não observar, não perceber..

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