Metáforas



Acredito ser em muitas circunstâncias uma pessoa metafórica. Explico melhor, talvez por ser imaginativa desde criança vejo algumas situações por meio de metáforas e, por vezes, também por meio de signos.
Exemplo disso é que dias atrás tive que ir a um lugar onde não tinha a mínima vontade, mas era obrigada... e, quase na entrada, me deparei com uma barata significativamente grande que passeava agitada entre a guia e a calçada. Achei um pouco inusitado, porque já estamos no outono e esse ser asqueroso é mais comum no calor. Mas logo me veio a lembrança de que nossa cidade nunca esteve tão suja e tão propícia a insetos rasteiros (literal e metaforicamente falando!).
Entretanto, a metáfora surgiu em seguida e, claro, foi o que prevaleceu no meu entendimento: a barata rodeando a porta daquele local era a representação de tudo o que existe ali: as más ações ocultas aos olhos incautos; todas as sórdidas intenções, a ganância desmedida, a falta de respeito pelo ser humano. Tudo o que tenho que conviver, mas que desprezo.
Quantos signos pode carregar esse inseto? Seu aspecto repugnante, sujeira, doenças, mal estar... abandono, escuridão... Um ambiente insalubre condena o corpo e a mente.
E, como se isso não bastasse, mais uma triste sensação me envolveu e com ela uma dúvida horrível,  seria essa barata a metáfora da minha atual situação?! Seria eu o pobre Gregor Samsa, tão presa a obrigações, compromissos, com fardos, cujo o corpo e alma não suportam mais? E tudo o que nos resta é sermos reduzidos a um inseto nojento, desprezível, porém extremamente resistente?!...
Tentei afastar a sensação que tais pensamentos me causavam, buscando a certeza de que com o espírito e a consciência limpos, medos, sujeiras ou insetos não têm onde se esconder.

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