Flores e Ser

 

É engraçado como quando menos esperamos somos surpreendidos. Para mim, uma dessas incríveis surpresas chegou de modo singelo, porém de uma beleza modesta, despida de qualquer pretensão e, ao mesmo tempo, plena de vida e alegria.

Certamente, para algumas pessoas o encantamento pode ter outros caminhos, nuances diferentes; e ainda para outras, só a concretude do que é material e possa se medir em valores monetários é o que conta.

Num ano em que o perigo, a distância e a dificuldade reinaram, tivemos a oportunidade de reavaliar muitas coisas, prestar atenção em fatos simples, valorizar o tempo, os afetos, o olhar.

Eu que sempre gostei do tempo do pensar, do ócio para refletir, observar, criar, tantas vezes fiquei exausta com o excesso, o freio de mão puxado, planos paralisados, a vida em suspenso...

Mas ainda assim quando temos o nosso olhar livre e pronto para o simples e o belo, algo que pode parecer pequeno, até mínimo, consegue nos surpreender e nos encher de uma felicidade leve e ingênua.

E foi exatamente o que me aconteceu semana passada, pouco antes do Natal. De repente, meu vaso de espada de São Jorge (que veio de uma pequena muda há quase 10 anos e hoje é enorme e pleno de espadas) deu flores! Nunca em todos esses anos havida florescido; e para dizer a verdade, eu nem sabia que espadas de São Jorge davam flores... Fiquei encantada; como é linda e que perfume delicioso, suave, mas intenso. Para mim foi uma alegria extraordinária ver aquela flor branca, com gotículas que pareciam pequenos cristais e aquele aroma delicioso aparecer na nossa casa, na minha vida. Como é divino ver a vida, a natureza se manifestar!

Fotos: Arquivo pessoal

Para completar essa festa florida em casa, outra planta que tenho há mais de 10 não quis ficar de fora e também surpreendeu nos dando flores. Jamais soube que essa plantinha, tipo suculenta desse qualquer tipo de flor. Em todos esses anos esteve ali verdinha, tímida, enfeitando o nosso quintal com seus discretos ramos que lembram cachos. E quando eu pensei que me bastasse a felicidade de ver a linda flor do soberano vaso que guarda a entrada de casa com as espadas de São Jorge apontando para o céu, vem mais essa grata e bela surpresa para encher a casa de alegria e vida de uma natureza portátil, próxima e minha.

Encarei esses presentes como uma metáfora, um sinal; esse ano que está nos deixando e que foi marcado por tantas existências que se foram, tristezas e dificuldades e sei que não foi fácil para ninguém. Mas que ao mesmo tempo a vida, a beleza, o perfume podem surgir quando menos se imagina. É a capacidade de ter esperança, de acreditar que nada do que vivenciamos é permanente, nem as alegrias, tampouco as tristezas e dores. Entretanto, é preciso saber o tempo de parar, o tempo de seguir, o tempo de esperar, o tempo de fazer e, nesse meio tempo, ter olhos e coração abertos para os sinais que o universo nos envia e compreender o momento e as mudanças.

Que mais novas, lindas e extraordinárias surpresas venham, como simples flores perfumadas, como aquele abraço que tanto nos faltou, como todos aqueles sonhos e projetos que foram adiados.

Que venha a cura, a esperança, mais tolerância, empatia e amor. Pessoas, situações e atitudes boas sejam mais difundidas, comentadas, curtidas e compartilhadas, para que assim o bem se propague, porque ele sempre foi, é e será maior do que todo e qualquer mal.

Que venha o novo ano: 2021 e que ele seja próspero e nos traga o melhor!