Força e Coragem

 Podemos dizer que o 8 de março é um dia para se refletir sobre a condição das mulheres e tentar mudar os outros 364 dias e essa mudança começa por nós mesmas.

Refletir, construir e sustentar o respeito próprio, para sermos quem quisermos, respeitarmos as nossas vontades, o nosso corpo e aparência, os nossos amores, as nossas opções. Esse respeito começa por cada uma de nós, em primeiro lugar.

Não podemos e nem devemos dar aos outros o aval de nos dizer como devemos nos comportar, ou sermos; inclusive a outras mulheres, pois infelizmente, esse é o pior tipo de machismo, o machismo feminino, aquele de mulheres que reduzem a sua condição e a das demais e reafirmam que o lugar da mulher atrás de um grande homem, é cuidando da casa e dos filhos, é calada, sem voz, escondida dentro do lar. É claro que ser dona de casa é uma das muitas escolhas que uma mulher pode fazer, mas não a única.

Se realmente queremos ser tratadas de forma diferente, precisamos também ter outra postura, não podemos esperar que a sociedade nos dê aquilo que devemos dar a nós mesmas: auto respeito e poder; não temos que pedir licença para existir, mas também não temos que ficar só no discurso, temos que ter a cabeça erguida e viver, seguir nossos caminhos e fazer valer nossos direitos e vontades individuais (para começar). E só é possível quando nos conhecemos verdadeiramente, tanto nossas limitações, quanto nossas potencialidades e, sobretudo, se acreditamos em nós mesmas. É um longo percurso, mas precisa ser iniciado de algum modo.

Não acredito em discursos panfletários, de raiva, ou de que para sermos acatadas temos que ver todos os homens como inimigos e vivermos apartadas do sexo oposto para obtermos o respeito e o lugar que é nosso por direito. Até porque, o feminismo é por essência a igualdade e não a exclusão, ou a supremacia.


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Homens se manifestam em Roma: Flashmob Não à violência contra as mulheres
           (foto: site Ghigliottina)


Máscaras e sapatos vermelhos: manifestações em cidades italianas 
   (foto: Agora Vox Italia)


Como eu disse, muitas vezes o nosso maior inimigo são as próprias mulheres que, com atitudes e pensamentos machistas e com competições fúteis, julgam as outras mulheres que são diferentes de si, seja pelo comportamento, seja pela aparência: a roupa, a maquiagem que usam é excessiva, ou julgam aquelas que não usam, pois não se cuidam! Criticam a dona de casa profissional e a profissional que não curte os serviços domésticos; as que têm filhos, ou as que não querem ter; se é piriguete, ou recatada demais; se está gorda, fora de forma ou se é viciada em regimes e em contar calorias... a inteligente não pode ser vaidosa, se é vaidosa, então, é meio burrinha...  Toda essa censura parte do ponto de vista daquelas que não aceitam as mulheres que pensam, agem e são diferentes delas. Essa desunião é uma fraqueza que em plenos anos 20, do século 21 ainda não conseguimos sanar; até quando?! Juntas, com todas as diferenças que temos e que devemos aceitar, temos poder, do contrário ainda penaremos muito.

Isso sem mencionar a minha loucura feminina favorita: a de que somos capazes de fazer mil coisas ao mesmo tempo. Mas é claro!  E é exatamente por essa insanidade que enfiaram na cabeça das mulheres que elas estão “à beira de um ataque de nervos”, de tanto acúmulo: ser a profissional bem sucedida que dá conta de tudo (mas que ainda ganha o equivalente a 20,5% menos da média masculina); mãe excelente que faz parte de diversos grupos de como se deve educar da maneira adequada os filhos, com tempo para postagens, fóruns e comentários; dona de casa exímia; além de mulher com tudo em cima que malha, se cuida e esposa devotada, carinhosa e disponível. Essa é a forma moderna de escravizar as mulheres! Dividir e delegar tarefas no trabalho e no lar não é sinal de fraqueza; pelo contrário, isso nos dá foco e ter foco é ter poder!

A vitória, antes de tudo, é sobre nós mesmas, de não se sentir frustrada por optar ficar em casa, administrando o lar e cuidando dos filhos, ou de não se sentir culpada por optar exercer uma profissão e não estar em tempo integral com os filhos. Escolher a liberdade (se o corpo pede) de usar 44, ao invés de se embalar a vácuo em um jeans 40. Aliás, essa é outra escravidão imposta nas últimas décadas, a magreza e a estética de corpos que vão se alterando de acordo com “as tendências ditadas” (sabe-se Deus por quem!) e que fazem a alegria dos cirurgiões plásticos de plantão. Felizmente, algumas mulheres já estão acordando desse pesadelo e se dando conta de que é tempo de parar com essas imposições que fazem com que muitas enfrentem intervenções que tantas vezes trazem consequências graves, inclusive levando a óbitos. Já existe um movimento crescente entre celebridades que estão retirando próteses de silicone e dando o seu testemunho sobre as consequências desse tipo de intervenção.

É preciso se libertar dos estereótipos e dos clichês, buscar o amor próprio e a autovalorização. Ter a força maior do que a pancada para denunciar as agressões e abusos. O não deve ser sempre ser mais potente do que as imposições do assediador e deixar claro que para se conquistar um cargo, uma mulher precisa de um único atributo: a competência profissional. Que toda mulher tem o direito de sair ou viajar sozinha e ficar sozinha, sem ser importunada. Que o tamanho da saia, ou o tipo de roupa usada não pode justificar qualquer ato de violência sexual.

Ter o direito de caminhar pela vida e fazer escolhas que são nossas, somos nós quem decidimos e pagamos o preço por elas, não devemos esperar que os outros aprovem ou endossem nossas opções, a responsabilidade é nossa e devemos ter a força e a coragem de manter cada uma delas e seguir em frente buscando o espaço e tudo o que queremos e merecemos.

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