A'uwẽ: utabi ĩtede'wa wi uburé ti'a *

(Indígena: verdadeiro dono de toda terra) 





Vivemos em um país cuja miscigenação é visível e inegável, ainda que muitos não queiram enxergar o óbvio, ou pior, queiram negar e apagar a história e a genética do povo brasileiro. O que, em tempos de Terra plana e todos os tipos obscuros de negação, nos faz crer que estamos dentro de um thriller bizarro que mistura episódios contínuos do “Além da Imaginação”, com o filme “Invasores de Corpos” e assim os absurdos vão se tornando lugares-comuns, coisas corriqueiras... 
Dentro dessa amalgama que compõe o “ser brasileiro” (genética, histórica e culturalmente), temos a nossa matriz, o princípio de todos nós, os mais brasileiros dos brasileiros: os indígenas. Que dos tempos da exploração (ops, sorry!) digo, da colonização, foram mortos, escravizados, contaminados com vários tipos de doenças, tratados como seres “inferiores”, suas terras subtraídas e usurpadas. Hoje, desprezados e relegados a espaços cada vez menores, correndo o risco, principalmente nos últimos anos, de serem expulsos das suas reservas (as poucas terras que lhes restaram) por agricultores, garimpeiros e exploradores ilegais de madeiras. 
As tribos isoladas, algumas até então completamente sem contato com outros povos, estão sendo vítimas de missionários (a maioria vinda dos EUA), que dispondo de muitos recursos, chegam a essas tribos por meio de helicópteros para “evangelizá-los”; o que na verdade, trata-se do extermínio da sua cultura, influenciando os mais jovens a crerem que as tradições e ritos de seu povo são “cultos demoníacos”, entre outros abusos, tais como, racismo, desprezo pelas crenças indígenas, além de acusarem essas tribos de cometerem infanticídio. 
E como se isso não bastasse, nesse último ano, os indígenas ainda sofrem com a pandemia, sendo vítimas de contágio pelos invasores, inclusive os que estão chegando às tribos mais remotas que não tinham contato algum com o resto do mundo que chamamos de civilização (?). Até o momento, 1000 indígenas já perderam a vida por conta da Covid-19. 

'Ru (Cinzas) 


A aniquilação das terras indígenas também continua em tempos de pandemia. Entre os estados do Amazonas e Roraima, de janeiro a dezembro de 2020, ocorreu a devastação de uma área equivalente a 500 campos de futebol na Terra Indígena Yanomami. O garimpo ilegal foi responsável pela perda de quinhentos hectares de floresta Amazônica no território indígena. Somente no ano passado, o total de área desmatada teve um aumento de 30%, chegando a 2.400 hectares destruídos. 
Na noite de 21 de março (2021), um incêndio criminoso destruiu a barreira sanitária do povo Tremembé da Barra do Mundaú, no Ceará. Graças à ajuda da comunidade, uma ação conjunta foi feita para reconstruir a espaço que havia sido incendiado. O povo Tremembé pediu apoio às autoridades do Estado e ajuda para fortalecer as defesas do seu território e também a punição dos responsáveis. 



Tô'ã! (Chega!) 



Os povos indígenas são responsáveis pela conservação de cerca de 80% da biodiversidade do planeta. É inegável que o respeito e a preservação dos povos indígenas no Brasil e, em todo o mundo, são o único caminho para a conservação de modo justo e correto do meio ambiente. As terras habitadas por povos indígenas, onde os seus direitos são respeitados, há menos incêndios e desmatamentos e mais biodiversidade do que em áreas protegidas, como parques ou reservas naturais que não tenham a presença de povos nativos. 
Já passou da hora da sociedade achar que ignorar ou ficar apenas no discurso fará com que a situação esteja sob controle. Os povos indígenas merecem consideração, merecem ter suas terras e direitos garantidos e mais, merecem ser ouvidos e ter sua cultura preservada e difundida. 
Somos indivíduos, mas também somos um todo! A mata que incendeia aqui reflete no outro hemisfério; a vida que se estingue em outro continente irá abalar aqui; a Terra é única e de todos. O sangue que corre em nossas veias é o mesmo: vermelho que percorre as nossas artérias e bombeia os nossos corações. Assim como a nossa raça é uma só: A RAÇA HUMANA, o que difere é o quanto se é mais ou menos humano, o resto... é fenótipo.

* Língua Xavante (título e subtítulos) -  Fonte: PEQUENO DICIONÁRIO XAVANTE–PORTUGUÊS PORTUGUÊS–XAVANTE (Sociedade Internacional de Linguística
 Cuiabá-MT).

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