Amor e erros...

 A linha tênue que separa amar e saber que é preciso reconhecer quando a pessoa amada comete um erro grave e deve responder por isso...  

Até que ponto quem ama acredita que deve fechar os olhos e passar a mão na cabeça, pensando que essa atitude vai proteger o ser amado? Será que, de fato, o amor faz com que se perca a real noção do que é certo e do que é errado?

Coloco aqui essas perguntas buscando fazer algumas reflexões, pois ao longo da minha vida observei pessoas próximas a mim e, também não tão próximas, que em nome do amor alimentaram e alimentam a esperança de que as falhas e erros graves de quem se ama serão apagadas ou se resolverão como em um passe de mágica.

Até que ponto amar pressupõe ocultar ao outro os seus desvios, seus delitos que precisam ser corrigidos, resolvidos e, em muitos casos, até punidos? Seria, então, o amor um sentimento que não permite revelar a quem se ama que está ferindo os outros e, consequentemente, a si mesmo? Seria um sentimento que dá um salvo conduto a quem ama tudo permitir, sem impor limites, regras, sem demonstrar ao outro as consequências de seus atos e escolhas?

Tantas vezes me deparo com os extremos nas relações: o amor que tudo consente e permite, ainda quando é evidente que se está sendo permissivo com coisas para se dizer, no mínimo, equivocadas; ou o abandono; Sim, apesar de amar, há pessoas que abandonam aqueles que amam. E não falo aqui do abandono explícito, pois esse é evidente, me refiro a um abandono sutil e, por isso, extremamente cruel, pois muitas vezes nem a pessoa que cometeu o abandono se dá conta de que o fez e é perseguido inconscientemente por um sentimento que não consegue decifrar e que lhe causa uma angústia silenciosa...

Pode, realmente, um sentimento sempre visto como nobre e belo, cantado e declamado em versos e prosa, tão almejado por todos em todas as esferas de relacionamento ter esse lado oculto e perverso e aquele que ama não se dá conta dessa face sombria ? Ou será que alguns cometem esses enganos em nome de uma covardia travestida de amor? Uma falta de coragem de encarar de frente os fatos, impor limites a aquele que se ama e dizer não, dizer basta quando é necessário?

Sem dúvida, amar é estar ao lado e dar apoio em todos os momentos e circunstâncias, mas isso não significa encobrir erros, mascarar a realidade, não mostrar as faltas cometidas e suas devidas consequências, ou em outro extremo, jogar a toalha e desistir de quem se desvia do seu caminho, mas sem admitir a si mesmo que desistiu da pessoa amada.


Na verdade, como diz a frase “o amor é lindo!”, é sim, mas ninguém disse que o amor é fácil. E cabe a todos amar na justa medida, sustentar quem se ama, mas jamais deixar de mostrar que quem comete falhas deve responder por elas e que do outro lado do percurso, depois de pagar por seus erros, se estará de braços abertos, todos prontos para recomeçar. Assim como também a justa medida de jamais abandonar silenciosamente aqueles a quem se ama.

Amar na justa medida está longe de ser fácil ou simples, mas sempre valerá a pena. Acredito que de certa forma amor e justiça andem juntos e que não se justifica tudo por amor. Amar é segurar a mão do outro para seguir o caminho certo e não se perder nos erros, atalhos, desvios, ou abandonos cometidos por quem se ama.

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