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Passagem do Ano

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 (Carlos Drummond de Andrade) O último dia do ano não é o último dia do tempo. Outros dias virão e novas coxas e ventres te comunicarão o calor da vida. Beijarás bocas, rasgarás papéis, farás viagens e tantas celebrações de aniversário, formatura, promoção, glória, doce morte com [sinfonia e coral Que o tempo ficará repleto e não ouvirás o clamor, os irreparáveis uivos do lobo, na solidão. O último dia do tempo não é o último dia de tudo. Fica sempre uma franja de vida onde se sentam dois homens. Um homem e seu contrário, uma mulher e seu pé, um corpo e sua memória, um olho e seu brilho, uma voz e seu eco, e quem sabe até se Deus... Recebe com simplicidade este presente do acaso. Mereceste viver mais um ano. Desejarias viver sempre e esgotar a borra dos séculos. Teu pai morreu, teu avô também. Em ti mesmo muita coisa já expirou, outras espreitam a

Bexigas

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A coisa mais interessante que vi na black friday foi um coletivo de bexigas amarelas e pretas, dessas que enfeitam festas de aniversário de crianças, passeando por uma rua movimentada da zona norte. Verdade! Rolavam animadas pela calçada, passeando entre os pedestres! Estava eu parada em frente a uma livraria, próxima a um ponto de ônibus, quando as vejo "caminhando" saltitantes. Passam rente à ponta do cigarro de uma moça que estava no ponto esperando o ônibus... Escapam ilesas e seguem ziguezagueando entre a calça e a guia, não se importando muito com os carros que passam bem perto delas. Sigo as bexigas com os olhos, preocupada que algum carro pudesse acertá-las – como se fossem crianças brincando no passeio público – afinal, eram apenas balões cheios de ar! Mas acredite tinham mais vida e espontaneidade do que os zumbis que entravam, se acotovelavam, ou ficavam estáticos em frente às vitrines das lojas. De repente, sem cerimônia, elas atravessam a rua (como se soubess

Sol, saxofone, gentilezas

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Hoje parei num farol e apareceu um rapaz tocando saxofone (tocava Anunciação, do Alceu Valença), debaixo de um de 30 graus! Quando ele terminou, eu aplaudi e sorri, fazendo um gesto de que não tinha trocado... Ele me sorriu de volta, agradecendo o aplauso e fazendo um coração com as mãos. Pois é, mais do que grana no bolso (todos temos contas para pagar...), nós precisamos de GENTILEZAS!

Entre ônibus, odores e o Bem-estar

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Posso dizer que essa semana vivi um dia, no mínimo, peculiar. Depois de dois ônibus – ainda bem – com trajetos rápidos, porém, de viagens maçantes a estressantes. No primeiro, o motorista tinha um rádio sintonizado numa estação religiosa, cujas músicas de letras inaudíveis (por conta de todos os outros sons no entorno: buzinas, motores, trânsito, portas do ônibus que se abrem e se fecham...), permeava o seu bate-papo animado e ambíguo com um passageiro, nascido no Rio Grande do Sul e, segundo o seu relato, conhecedor do passado da President'a no período em que residiu no Sul. De fato, a conversa dos dois era tão confusa, quanto as músicas que tentavam inutilmente cantar alguma mensagem de fé... Confesso que cheguei ao ponto final sem entender se eram contra ou a favor do governo atual; ora, eu ouvia "porque toda essa corrupção que ta aí...” Ou, "A Dilma bagunçou muito em Porto Alegre..." e ora ouvia: "eu não tenho do que me queixar, estou muito bem nesses

Silêncio

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(Edgar Allan Poe) Há qualidades incorpóreas, de existência dupla, nas quais segunda vida se produz, como a entidade dual de matéria e da luz, de que o sólido e a sombra espelham a evidência. Há, pois, duplo silêncio; o do mar e o da praia, Do corpo e da alma; um, mora em deserta região que erva recente cubra e onde, solene, o atraia lastimoso saber; onde a recordação o dispa de terror; seu nome e “nunca mais”; é o silêncio corpóreo. A esse, não temais! Nenhum poder do mal ele tem. Mas, se uma hora um destino precoce (oh, destinos fatais!) vos levar às regiões soturnas, que apavora sua sombra, elfo sem nome, ali onde humana palma jamais pisou, a Deus recomendai vossa alma!

Contra?

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Eu não sou contra nada, nem ninguém. O que sou é a favor de muitas coisas, dentre elas: Dignidade; Respeito;  Caráter;  Amizade;  Amor;  Igualdade irrestrita entre todas as pessoas;  Liberdade de credo;  Verdade;  Paz;  Espontaneidade;  Justiça;  Prosperidade etc.  Não tenho (e não tento) convencer qualquer pessoa sobre isso, mas não quero (e não vou) engolir ou ser convencida com discursos prontos, escolhidos em prateleiras, de pessoas que precisam dar opinião sobre absolutamente tudo – e o tempo todo! Não sou obrigada a NADA! Não tenho que dar opinião sobre NADA! Tenho a opção de não me indignar e preferir ouvir os cantos dos pássaros. Passarinhando, encerrando vou parafrasear, ou melhor, citar Mário Quintana: "Todos esses que aí estão Atravancando meu caminho, Eles passarão... Eu passarinho! " (Poeminho do Contra)

Transformar

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Quando o vazio é o que te preenche O silêncio é o que fala A solitude o que te acompanha É hora de ficar imóvel, Da espera que antecede tudo o que está por vir Despir as vestes das crenças passadas E deixar passar... Rumo ao novo: mudar Soltar as amarras das crenças, orgulhos; ilusões Transcender o aparente Buscar a plenitude para emergir o que é real Traduzir os sonhos Ouvir a voz da alma: se TRANS-FOR-MAR!

Assim caminha (ou não) a humanidade

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Quando nascemos ele está lá, pronto para nos acolher e nos levar com ele por toda a nossa vida. Alguns dão de ombros, passam ao largo e vivem seus primeiros anos de vida longe de sua supervisão direta. Na fase escolar, ele está ali, olhando para ou por você, depende do lado que você está. Mas quando crescemos e alcançamos a vida adulta não há como escapar; lá está ele – de braços abertos, sorridente – pronto para nos envolver e nos acompanhar até a hora do descanso eterno. Há dois lugares que são a sua morada predileta: a empresa onde se trabalha – a maior parte delas – e nas esferas públicas (serviços, órgãos, repartições...). Mas atualmente ele faz hora extra e podemos encontrá-lo em outros lugares-chave da sociedade: alguns tipos de “entretenimento”, mídias, corporações, instituições financeiras e outros mais. Em se tratando de uma pessoa resignada, você irá se acostumar com a sua presença constante e vigilante. Passado um tempo, vai começar a gostar dele e achar que sua abran

O que mora em mim

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Mora em mim uma criança Menina sapeca, Ingênua, travessa, Moleca de tranças Rodopia na vida Tomba e levanta Reaprende a andar, A correr e saltar Mora em mim uma criança Àquela que brinca, Bambeia na corda, Roda e dança Ri largo e espontâneo, Chora e bate o pé Sabe o que foi o futuro Vê o passado o que é O que mora em mim é uma criança Abro as portas pra ela sair Se manifestar Solta, me possuir Deixar de lado As asperezas cotidianas Fluir a leveza mágica Jogar o jogo, rolar os dados Tratamento estético natural Essência do ser (e ser) Feliz por tudo e qualquer coisa Alegria de ser um ser original Ânima, combustível da vida Me refaz; ligação divina Da eterna alma Que o tempo leva e traz O que mora em mim é uma criança Que vem e vai Leve, me leva e sigo Comigo nessa ciranda!

Negras Lágrimas

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No dia 22 de setembro comemorou-se o dia do Rio Tietê. Eu disse mesmo comemorou-se?! Mas o que realmente temos para comemorar? Quando pequena ouvia meu avô dizer que havia pescado no rio Tietê. Eu, uma menina com seus quatro ou cinco anos, perguntava espantada a ele como podia pescar ali se o rio era muito sujo, não tinha peixes... Sorrindo vô Nino me contava que nem sempre foi assim, que as pessoas nadavam, pescavam e se divertiam muito ali. “Por isso, têm os clubes Tietê e Espéria pertinho do rio, tinha competição de remo e natação!”, dizia entusiasmado o pai de meu pai, com seus olhos azuis cor de céu que brilhavam com aquelas recordações. E eu ouvia essas histórias num misto de desconfiança (podia ser uma espécie de conto para crianças como tantos que eu escutava) e de saudades por algo que não vi e não vivi. Passado muito tempo, as histórias do meu avô, e de outras pessoas que tiveram o privilégio de ver limpas as águas desse rio, estão cada vez mais e mais distantes. Seu Ni

Bichos Soltos

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O mês de agosto é popularmente conhecido como o mês do cachorro louco. E posso dizer que, de fato, não foi só o cachorro, mas que o bicho esteve solto neste agosto de 13! A chegada dos médicos estrangeiros, sobretudo os cubanos – mostrou para nós mesmos e para o mundo – que o Brasil não só padece de falta de médicos, mas de falta de educação e respeito com os seres humanos, independente de sua nacionalidade, cor ou sexo. Palavras de ordem contra os cubanos, racismo e preconceito... Substituo aquela frase “Orgulho de ser brasileira (o)” por “VERGONHA de ser brasileira”. Atualmente, temos tido vários motivos para nos envergonharmos. Além desse triste episódio, temos visto a mídia propagar aos quatro cantos vândalos, bandidos e desocupados travestidos de um nome gringo para se dizer chique e engajado (?), os tais black blocks... Ainda nesse estranho agosto tivemos o privilégio de ver um deputado condenado e já preso não perder o seu mandato. Lembrem-se que há menos de dois meses o p