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“Você tem fome de quê?”

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Dia desses, vi numa revista de celebridades uma declaração da nossa excelentíssima President”a” alegando que o Brasil agora é um país de classe média que valoriza a arte, a cultura e a ciência. Confesso que tal afirmação me gerou certos questionamentos e, não vou negar, um pouco de espanto. E como não sou uma pessoa egoísta (pelo menos procuro não ser!), vou dividir minhas perturbações sobre o assunto com você meu estimado leitor. Começo a me indagar de qual país estamos mesmo falando, se é daquele que ainda possui mais de 14 milhões de analfabetos, para uma população de 194 milhões de habitantes. Não sou nenhuma expert, mas segundo meus cálculos esse número equivale a... deixe me ver... sim, a 7% da nossa nação. Ou estamos nos referindo ao Brasil que se tornou refém de um assistencialismo perverso que há uma década está convertendo o brasileiro – que era um batalhador por natureza (e se orgulhava disso) – em uma malta de encostados, uma casta especial que acha bom e normal ser manti

Incondicional

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Não importa a hora, chova ou faça sol, a qualquer movimento ou o som da minha voz é o suficiente para fazer com que ela pare tudo o que está fazendo e venha ao meu encontro. É assim desde sempre, desde quando veio morar conosco há quase nove anos. Esperta e carinhosa sabe surpreender quando quer. Pode se jogar aos meus pés, pular, ou enfiar o focinho na grade da porta e me olhar com olhinhos meigos, as patas dianteiras segurando a grade e o corpo dando um balancinho, como se estivesse dançando twist. Falo de Penélope, amiga de todas as horas. Em todos os momentos disposta a um carinho, a uma brincadeira e até a uma verdadeira farra! Inquieta – essa senhora que em julho completará onze anos – não pára. Adora atravessar da garagem para o quintal dos fundos, dando uns pit stops no escritório, para quebrar a monotonia do trabalho, pedir um afago, brincar e ficar pra lá e pra cá. Quando vê que estou ocupada e não lhe dou muita atenção, dá um toque com o focinho na minha perna ou na

Notas Singelas

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Um som corta o árido cotidiano da nossa cidade. Em meio à agitação, aos passos apressados surgem notas singelas que vão ganhando forma, vida. E, então, uma melodia conhecida e agradável aos ouvidos toma conta do espaço e ecoa pelos quatro cantos. Anônimos de todas as idades, sexo e cor por um breve momento nos brindam com toques de sensibilidade e arte. Tornam os apressados mais leves e atentos. Os que têm tempo param para ouvir e observar. E toda a atmosfera ao redor se transforma por meio de mãos desconhecidas que alegram uma parte do dia dos que por ali passam. Músicas que tocam o coração, resgatam lembranças, afloram sensações. Esses raros momentos acontecem, vez ou outra, em determinadas estações do metrô paulistano. Onde pessoas comuns, por alguns instantes, emprestam um pouco do seu talento sentando-se ao piano e pondo-se a tocá-lo para tantos milhares de estranhos que por ali passam, que vão e vem para os mais variados destinos. Curioso... um local onde circulam tantas e div

De outros carnavais

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Lembro-me, quando criança ou adolescente, de ouvir meus pais e meus avós, em tom professoral, falarem: “no meu tempo era diferente!”; “no meu tempo não tinham essas coisas...”. Na época, confesso que achava chata essa comparação, ou, pelo menos, não via muito sentido nisso. Mas agora começo a entendê-los. Não se trata de querer que o tempo pare, que as pessoas, acontecimentos ou coisas fiquem imutáveis. Trata-se – de um lado – de uma gostosa nostalgia (por que não?). A nostalgia em certa medida é saudável, nos faz lembrar de fatos, pessoas, comidas, objetos etc. que nos foram queridos, fizeram parte de uma fase boa e que, sabemos, não voltará mais e que outras gerações não poderão ter as sensações que tivemos quando vivenciamos “estas nossas coisas tão especiais”. Por outro lado, existe algo que vai além da agradável nostalgia, e aí fico preocupada. A época em que vivemos traz consigo muitos recursos materiais e tecnológicos; um manancial incrível de marcas, produtos, serviços, int

Passos

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Os passos que te seguem: Atrasados, rasos, soltos... Na corrida caminham Loucos, pouco, frouxos Pulando... de novo! Se recompondo, se pondo Sem tropeços e escorregões Quedas ou viradas  Quebras ou torções Pisada firme: dignidade Bailando no salto Sambando descalços Arrastados nos chinelos de dedos Ou nos anatômicos:  Pés chatos, pés fortes Postos nas areias, Na relva, no asfalto... Firme, com os pés, em pé Caminhando, sempre

Fim do mundo, não! Fim do Ano

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Bem, se você está lendo esse texto é porque tanto eu quanto o prezado leitor estamos bem vivos e a Terra girando como sempre. Pois é, o mundo não acabou, mas acredito que o seu 13º já! E tudo segue no rumo certo; acredite, tudo está exatamente onde deveria. Embora muitas vezes os acontecimentos pareçam completamente sem sentido para nós; Porém, com o tempo, a explicação se apresenta e entendemos o porquê de situações que antes pareciam injustas e até absurdas. O mundo pode não ter acabado – literalmente – (graças a Deus!), mas, creio eu, que chegamos ao final de uma etapa e estamos prestes a fechar mais um ano e um ciclo. É o momento oportuno para refletirmos o verdadeiro significado de COMPARTILHAR, verbo que anda na modinha atualmente, mas cujo real significado é pouco aplicado na prática. Compartilhar, segundo o dicionário Michaelis: vtd+vti participar, partilhar, compartir. Ou seja, é muito mais do que postar fotos, gracinhas e pensamentos nas redes sociais, compartilhar é divi

Túnel do tempo II

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Mais duas crônicas antigas, direto do túnel do tempo! Onde está Paulinho Guerreiro? Há certos lugares que compartilham fases importantes de nossas vidas, e por essa razão, acabam tornando-se igualmente inesquecíveis. Por exemplo, quem não se lembra de um local predileto para os esconderijos e brincadeiras da infância, a rua do melhor amigo, a praça ou o point da paquera, a porta do colégio, enfim, tantos lugares, várias emoções... Mas há outros lugares que chamam a atenção por sua peculiaridade; e o amor me levou a conhecer um destes lugares. Cidade de drásticos contrastes, íngremes ladeiras, ruas apertadas e casas de fachada precária. De um lado - ponto extremo - glamour, riqueza, casas estruturadas em condomínios luxuosos. De outro, ruas com buracos que podem nos transportar para o Japão sem escalas; falta de calçadas, pedestres e crianças nas ruas e pasme, postes no meio da rua; isso mesmo, no meio da rua. Por isso, não se assuste se um motorista bater num poste, nesta

Vivenciar os opostos

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Semanas atrás assisti a uma palestra que abordava os sucessos e fracassos vistos sob uma ótica diferente. Entre as diversas coisas interessantes que ouvi, uma expressão me chamou a atenção: vivenciar os opostos. Nesse contexto, vivenciar os opostos significa conseguir entender melhor a própria condição, dar valor à vida e ao que acontece a cada dia, a cada segundo... Ver com outros olhos os momentos dolorosos e saber que precisamos (de alguma forma) de tais circunstâncias para podermos apreciar os momentos de alegria. Repousar na doença para dar valor à saúde. Aproveitar a solidão para se fazer companhia e se conhecer melhor. Na falta de dinheiro, aprender a valorizar o que realmente importa. Tudo em nossa vida opera com os opostos: dever e prazer; dia e noite; trabalho e descanso; amor e ódio; alegria e dor; felicidade e tristeza; o belo e o feio. Enfim, dualidades mil que nos rodeiam e que fazem parte de nós mesmos e de nossas vidas. E é a nossa natureza – eternamente insatis

Direto do túnel do tempo

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Crônicas publicadas no jornal Correio Paulista, de Osasco: Ah, por que fui escutar o que mamãe dizia?... Andy Warhol, mestre da Arte Pop, disse que no futuro todos teriam os seus quinze minutos de fama. Profecia ou não, Andy estava certo. Temos hoje uma verdadeira enxurrada de “ilustres desconhecidos” que em nome da fama e (da grana) topam, literalmente, TUDO. Doce ingenuidade a minha... menina obediente que eu só, fui seguir o conselho de mamãe: “Minha filha, estude. Só o estudo garante um bom futuro, uma profissão e dinheiro.” Devo admitir que na época em que minha amada mãe me dava este sábio e precioso conselho tudo fazia sentido para mim. Afinal, minha geração é fruto de mulheres que lutaram pela igualdade de direitos, trabalho, respeito, abaixo às Amélias, etc., etc. e etc... Vejam só, trinta e poucos anos depois o que as mulheres se tornaram? Objeto. Sim, objeto no mais vil sentido da palavra. Produto comercial mesmo; descartável. A gostosona do anúncio de cervej

S.O.S para meus tímpanos!

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O fato de estar há mais de um mês sem postar absolutamente uma letra, sequer, deve-se a um fato nada agradável: tomo café da manhã e termino o meu expediente ao som ensurdecedor (e enlouquecedor) de uma persistente britadeira. Isso mesmo, a malvada começa a britar por volta das 8h30 da manhã e, na maioria dos dias, só pára às 17 horas. Enquanto tento - com muita insistência - escrever esse desabafo, a maldita máquina está lá fora sem pausa num barulho infernal... Essa tortura já se estende há pouco mais de um mês e ninguém sabe até quando o suplício continuará. Tudo fica quase impossível: pensar, escrever, trabalhar. E falar ao telefone, um exercício de loucura: "hein?; como?; você pode repetir, por favor?; oi??!; fala mais alto!". Você deve estar se perguntando o que acontece. Explico: uma equipe de doutos operários, uns cinco ou seis (contando o mestre de obras); sim, existe um mestre de obras. Como eu ia dizendo, estes ilustres operários estão tentando consertar o mu

Ecos lógicos

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 Tentei não me incomodar com tantas contradições, mas foi impossível. Mais forte do que a minha vontade de me alienar (?) é, sem dúvida, a minha vontade de questionar. Como pode um país sediar um evento para discutir o futuro “sustentável” do planeta, se não consegue sequer olhar para o próprio umbigo e cuidar do seu quintal? É difícil ficar indiferente quando todos os noticiários (impressos, online, TV...) repercutiam a tão falada Rio + 20. Acho vergonhoso nosso Brasil querer falar de ecologia; Ops, desculpem a minha falha! Não se diz mais ecologia, agora se usa o termo sustentabilidade. Como se a mudança de palavras fizesse a alteração mais importante: a mentalidade de quem decide se preserva, ou não, os recursos naturais. Enfim, retomando, acho (no mínimo) curioso o Brasil posar de líder, de sede do evento e de país que tem e prática ações sustentáveis. Afinal, para usar uma expressão bem popular adaptada ao assunto, o buraco na camada de ozônio é bem mais em cima. Veja